11 de setembro de 2008

A CARTILHA DO ESQUECIMENTO - Segunda parte

III Passo – Experimente outra rotina

Não se preocupe. Não é para sempre o tratamento de choque do Movimento dos Sem Memória. Todavia, até que um coração viciado/escravo/desavergonhado esteja completamente sob domínio de quem o carrega, é preciso navegar por outros mares e dar um tempo onde as águas são revoltas. E, se não quer continuar nadando e morrendo na praia, reúna esforços para praticar a bendita abstração. Abstrair, oras. Respirar fundo, contar até 10 e fingir que aquele problema não é seu. Para quem fingiu, por tanto tempo, estar feliz num relacionamento do Mal, será fichinha acreditar na nova realidade cor-de-rosa.
Sabe aquela música linda que vocês ouviam juntos ao contemplar estrelas? Você não gosta mais. O filme que ele te deu de presente no Natal passado...você vai emprestar sem exigir devolução. Sim, vai abrir mão do próprio bom-gosto, das preferências e de tudo o que o faz pensar na criatura que quer eliminar da memória afetiva. Nada de valorizar pensamentos involuntários do tipo “que coincidência! A nossa música no rádio!” – como se todas as boas músicas do mundo tivessem sido feitas só para esse casal idiota em particular, e não existissem outros milhares de casais idiotas se achando exclusivos. Não se trata de um plano do destino para unir os dois novamente, tampouco a Lua, em Júpiter, lança uma atmosfera que, não se sabe por que, faz magicamente surgirem, por todos os lados, símbolos, fotos, luzes de neon e sons que caracterizam a fabulosa e inédita história do ex-casal.
Já que você está de volta à vigília, deixe de ser a parte idiota e achar que o mundo gira em torno desse caso falido e desgraçado de falso-amor. Inteligente como é, sabe que amor mesmo só traz boas e agradáveis lembranças, nenhum sofrimento e paz, coisa que você não sabe o que significa faz tempo. A paz, contudo, invadiu o seu coração. De repente, você vai ver o mundo de forma prática e nada ridícula. As músicas e filmes existem e estão se lixando para você; os autores sequer sabem de sua existência e, se sonharem com a possibilidade, vão rir da sua cara por você achar que somente seu pezinho de Cinderela cabe no sapato de cristal.
A técnica é: não ouvir os discos e assistir aos filmes que o fazem recordar. Queime as fotos (obedeça sem hesitar). Não negue, pois todos sabem que você faz isso. Como é previsível a sua rotina de provocar lembranças, se acabar de chorar e se achar o último desgraçado da face da terra! Ó, por que logo você, que entregou seu coração? Chega! Pelo amor de Deus, você não tem mais 15 anos e não quer fazer os seus amigos sentirem náuseas ao ouvirem lamentações de tal ordem! Cultivar a autopiedade é causar repulsa nas pessoas. Ser coitadinho é pior do que ser corno. E disso você deve entender. Portanto, não provoque o vômito ao sentir nojo de si mesmo. Não provoque as memórias metendo o dedo na goela do imaginário que você reserva só para sofrer. Aproveite para descobrir novos autores, lançamentos e esquisitices legais. Em breve, será permitido voltar aos favoritos sem a mancha do intruso que lhe tomou a essência artística – momentaneamente. Vai de rumba?

4 comentários:

Anônimo disse...

Inacreditável! Nada mais a dizer...
Deus te abençoe, Rena!
Beijo

Anônimo disse...

tô aqui juntando alguns cds pra jogar na maré!
tâmara
*muitoo bom!

Eduardo disse...

Vou comprar algumas plantas e algumas flores de verdade, Jornalista.

Eu particurlarmente não sou adepto do index de romances passados. Talvez não sejam necessário as fogueiras, as terapias comportamentais. Segundo Cazuza toda dor traz uma pontinha de prazer.
Fico com o Neruda nuca lido e o disco do Pixinginha todo arranhado e gasto, porque fim é fim, e chega um momento que ficar "trocando miudos" perde o sentido, né?
Até porque, mesmo que você acabe com o sintoma ele volta de alguma outra forma, e não vou deixar de escutar Miles Davis e Legião Urbana =P.

Goodyzilla disse...

"Se um amor nasceu de uma cerveja
Outra cerveja beberei para esquecer
Um amor que surge numa mesa
Entre espumas terá que terminar"

Chamo o meu amigo Roberto Muller, para saborear uma Cristal, com esta canção na cabeça. E junto um monte de amigos para acompanhar.

Meus parabens pelo texto,ficou massa, Renatinha.

Goody