31 de janeiro de 2008
Somos Carnaval
Saia de tule, lantejoulas, capas, meia arrastão, tintas, batom, naftalina e brilhos. Quem nunca foi colombina, bailarina, fada, bruxa, melindrosa, palhacinho, freira, diabo, anjo, pirata? Quem nunca usou asas, pintou o rosto e saiu pra guerra? Botou a cartola e virou Carlitos, experimentando o sabor do silêncio? Sentiu-se livre com a máscara de arlequim? Gargalhou sem pena com o nariz de plástico vermelho? Ou posou de dançarina de cabaré com a cinta-liga? Ser o que e quem quiser; correr, pular e dançar sem censura; abraçar estranhos e fazer passo sem frescura; cair sabendo que alguém te segura...Quatro dias nos quais querer é poder...e as máscaras, na verdade, caem. Porque somos índios, pierrots e papangus; nossa essência é alegria, confete e serpentina; nossa família é o desconhecido que sorri, o catador de latas e a vendedora de água; nossos amigos são os mais felizes; nossos amores são o melhor de todos em um só; nossa casa é o céu colorido de plumas; nossos sonhos são todos reais. Por que esconder durante 361(2) dias o que somos, de fato, e não viver só míseros quatro dias de cinzas? Tiremos as máscaras e a fantasia de carranca; abandonemos os cortejos fúnebres; traiamos as troças do mau-humor; soltemos bombas no desfile da dor. Nos vistamos de sorriso e paz; amemos como se nunca mais...sejamos sábios pelos velhos carnavais...Botar o bloco na rua em 4 dias acho pouco; eu quero é mais!
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29 de janeiro de 2008
As maçãs
"As melhores mulheres pertencem aos homens mais ousados. Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando, na verdade, eles estão errados. Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar. Aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore." (Machado de Assis)
***
Nem sei se é mesmo de Machadinho (sim, tenho intimidade. =P) e acho até meio ingênuo. Mas tava fazendo faxina nos e-mails e achei esse textinho, que peguei em algum canto do passado. Junto com escritos sobre minhas impressões de mim mesma (meda! a leseira continua a mesma, mas os cabelos...quanta diferença!). E pensei em algumas amigas. Em especial, Sueli (fictício), que tá merecendo ser colhida por alguém mais corajoso. E todas nós, claro, que evitamos a podridão e a covardia =).
25 de janeiro de 2008
Cafuçu é rei
Palitar os dentes, pagar suvacão
Arrotar alto, cuspir no chão;
Coçar o saco, sentar de perna aberta
Camisa regata, fortinho ou fortão;
Suor e perfume enjoado, trancelim dourado
Crucifixo e escapulário, camisa de botão;
Óculos de caminhoneiro, riso safado
Pochete ou capanga, todo machão;
Paga a conta, abre a porta
Chama de princesa, curte um sambão;
Estampado com listrado, bolinha com quadrado
Verde e azul;
Chapéu de vaqueiro ou boné; havaiana ou mocassim no pé
Cuscuz e angu;
Pouco requinte na mesa; atitude e domínio na cama
Cana com caju;
Coragem, respeito ao freguês; Não sei vocês
Mas I Love Cafusú!
20 de janeiro de 2008
Disciplina do amor
Nem me importei com os espirros provocados pela poeira das velhas páginas. Reler alguns contos de Lygia Fagundes Telles e de Clarice Lispector me transportou para idos de um passado em que ainda havia inocência. Em mim, pelo menos. E a sensação de quando li, pela primeira vez, um dos trechos de A Disciplina do Amor. As escritas sempre fascinantes de La Telles me tocaram de tal forma, na época, que sinto agora, vivos, o gosto e o cheiro daquela leitura. O suficiente para ilustrar minha constatação de mudança pessoal. A idéia da fidelidade daquele cão, que transcendia a rotina material com o dono, hoje me chega diferente. Agora já não creio que aquela "disciplina" tenha sido por fidelidade, mas por lealdade. Conceito mais sincero, mais humano e crível. Também questiono se algo vale a espera. E penso se os sentimentos daquele animal não seriam mais nobres do que certos instintos humanos. A verdade é que devo estar ficando velha e chata. Mas continuo admirando os animais e o amor gratuito que nos ofertam.
16 de janeiro de 2008
Mulher Flexpower
Há aquelas que se interessem exclusivamente pelos homens que têm carro: Marias-Gasolina; as que só enxerguem jogadores de futebol - Marias-Chuteira - e ainda donas mais específicas, que prefiram, por exemplo, pittboys (Marias-Tatame) ou integrantes de banda (Marias-Microfone). Contudo nenhuma delas chega ao nível da poderosa Mulher Flexpower, aquela que não só se adapta a qualquer estilo de homem, como facilmente se transforma na versão caricata feminina do macho em questão. Com seus superpoderes, a Mulher Flexpower vai com álcool, gasolina, vodka, cachaça ou espumante, desde que seja a mesma preferência do boy que pretende fisgar. Pagodeira, surfistinha, cabeçóide, boa-moça, independente, atleta, crente, Amélia, cult, metaleira e o escambau: ela pode ser o que quiser, e faz parecer que assim é desde criancinha. Embora totalmente desprezível, dado o grau zero de personalidade e de amor-próprio, a Flexpower se faz passar perfeitamente pela mulher da vida do cara em pouco tempo. Infelizmente, o "sexo forte" costuma cair facilmente na conversa da anti-heroína (pra não dizer bandida), uma vez que lucidez e esperteza não são o forte dos usuários de cueca. Um amigo foi presa de uma dessas caçadoras de personalidade. Descolado, inteligente e chegado no mundo cultural, o rapaz se viu encantado pelas coincidências que o ligavam àquela moça meiga que surgira na sua vida. "Ela aprecia cinema iraniano, também é fã de Interpol e freqüenta os mesmos lugares, além de curtir futebol e ser do mesmo signo que eu! Perfeita!", me dizia. Dois meses depois, chorava-me pitangas por descobrir o oco daquela cabecinha, que descobrira falsa. "Ela podia ter me dito que era fã de Asa de Águia antes". Pobre rapaz! Desconhecia ele que o Google constrói até alma gêmea! O poder da Mulher Flexpower não garante a pós-conquista, pois seria muito complexo para o caráter atrofiado desse tipinho de biscate. Mas, justiça seja feita: a determinação da Flex é admirável. Quando tem alguém na mira, investe pesado: horas de pesquisa na internet, roupas novas, cabelo novo (quem sabe uma tatoo?), novo perfil no orkut, programas e baladas afins, blog descolê ou trechos da Bíblia, dependendo do gosto do "macho-alfa" da vez. E nem adianta opinar, ela acha que pode chegar ao céu. E não há quem convença a Mulher Flexpower de que o que faz um par não é só a semelhança, mas a harmonia. E que um verdadeiro Alfa não valoriza rótulo, e sim conteúdo; não quer se sentir espelhado, mas ter suas diferenças respeitadas; não precisa de clone, sim de complemento. E ele sabe que Mulher Flexpower não passa de uma Maria-mal-amada.
(Imagem: Edward Munch - As três fases da mulher)
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14 de janeiro de 2008
É uma bruta ansiedade
O oitavo pecado capital: ansiedade. Por esse, eu bem que mereço queimar no mármore lá dos quintos, sem perdão. Tantas foram as horas de cenho franzido, mãos inquietas, coração aflito, frio no estômago e pés balançando que cada instante zen tem valor inestimável. E, se tudo parece tão certo neste ano par, pra todo mundo, não custa ajudar os agentes invisíveis das energias do Bem com um pouco mais de calma. A tarefa é difícil pra quem faz mil coisas simultaneamente. Mas a impressão é de que se acerta mais vezes ao ativar o slowmotion do que nas agonias típicas dos seres afobados. Repara-se a estabanação de uma criatura ansiosa nos mínimos acontecimentos. A banalidade de passar manteiga no pão matinal, por exemplo, pode ser gravemente violentada pelo ansioso, que, atrasadíssimo para o trabalho, pensa, ao mesmo tempo, no horário do ônibus, nos alfazeres profissionais, na bolsa de valores de Nova Iorque, na população da China e em toda a pressa que tal contexto exige naquele momento. Resultado: mesa suja, pão frio, talvez um acidente do tipo café na roupa, língua queimada, soluço (afinal, você engoliu o pão como fosse líquido!) e topada no caminho, na melhor das hipóteses - caso o cocô do cachorro não esteja lá. Em assuntos amorosos, por exemplo, a ordem da afobação é pensar nas estratégias do dia seguinte, não esperar o dia seguinte ou mesmo acabar com qualquer ameaça de seqüência, já que ele não agiu como o esperado ao longo das últimas quatro horas. "Tá vendo? Ele não ligou antes das 18h. Sabia que era mais um canalha. Que morra, então!". Sim, é uma doença; afinal, seria possível curtir a tranqüilidade das ilusões amorosas durante alguns meses, até se descobrir a canalhice do cara, né? Eita, é exatamente isso. Ser ansioso é desperdiçar em minutos as emoções que podiam ser vividas em meses! Ou não. Ou...ah, se for lançar todas as hipóteses possíveis, estragarei minha terapia Uma coisa de cada vez. Isso porque não se pode visualizar minhas cutículas sendo ruídas e as pernas dançando na cadeira. Ai, só por hoje não me afobarei! Só por hoje!
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7 de janeiro de 2008
Escudo
Creio ser desnecessário portar armas full time pra fuzilar qualquer tentativa de sofrimento que se aproxime do coração. Mas do escudo é difícil se despir. Afinal, quando se leva muitos tombos, não é preciso temer o novo caminhar - porque medo é uma das características mais plebes que alguém pode portar -, mas não custa ter cautela com os saltos nas ruas esburacadas. O escudo cardíaco é aquele dispositivo que te faz ficar alerta nos sinais, mínimos que sejam, de perigo. Alguns chamam paranóia; outros, trava. Todavia parece ser acessório indispensável pra oferecer o mínimo de defesa aos corações remendados. Sem ele você pode não prestar atenção onde pisa e só perceber que entrou no caminho errado quando já tá apaixonado. Ou se jogar com tudo numa história que parece perfeita, sem perceber que as intenções do outro não são afins ou que esse tal outro tem outras histórias. Por outro lado, o escudo pode atrapalhar e até impedir que se vivam os sentimentos de forma absoluta; calar-se quando se quer dizer muito; conter-se, quando se quer entregar; dizer "até a próxima" quando se quer um "até amanhã". Amarras, receio, vacilo, covardia, dúvida e inércia podem até se travestir de escudo. Mas se proteger, de verdade, não significa deixar de viver, e sim ter certeza de que se quer e se pode jogar na piscina de cabeça, com ou sem trampolim. Talvez não fosse uma má idéia trocar o escudo por uma sombrinha. Uma bonitinha, colorida, singela, que seja! Assim pode se proteger das tempestades, sem reprimir tão bruscamente os sentimentos; além de se molhar um bocadinho e sentir o vento, fica mais bonitinho.
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