6 de julho de 2010

Coisa de mulherzinha


The Cure embalava o sofrimento de garotos que não choravam. Os clássicos garotos, controlados e equilibrados emocionalmente, que são como aço. Que rima com laço, com abraço. Estranho como o choro do homem saiu tanto do armário que banalizou o da mulher. Claro que não é geral, e que o fato não se pode (ou deve) chamar de bom ou ruim. Mas é interessante perceber as pequenas consequências simultâneas do endurecimento feminino e da sensibilização masculina. Expor o mais íntimo, vertê-lo, condensá-lo não é mais coisa de mulherzinha. Até porque a mulherzinha embruteceu-se um tanto - chamemos fortalecimento. Bom que se vão os tabus. Mas ficam os dedos? A mudança mostrou-se tão viva que se veem rapazes constrangidos diante da tarefa de ouvir uma pobre dama chorar. Atrapalhados, não sabem o que dizer ou como ajudar. Eles mesmos que choram (ou choraram) sem qualquer pudor. Talvez seja o medo das entrelinhas, das mensagens subliminares, de possíveis quintas intenções, dos signos, códigos e rótulos demasiados da pós-modernidade. Mas a coisa parece ser mais simples. E inofensiva. E das antigas. Lenço, ombro e abraço. Ou qualquer coisa que demonstre segurança, que confira sensação de "vai passar" ou "você não está só". Mirem-se no exemplo dos cafuçus. Eles é que eram Amélias de verdade.

3 comentários:

Eduardo disse...

Ah jornalista! Só você mesmo pra dar lirismo aos atropelos da vida moderna.
Embora eu sempre tenha sido aquele amigo-café-com-leite-que-as-amigas-podem-contar-e-que-pode-escutar-horas-de-conversas-femininas-sem-a-intenção-de-levá-la-pra-cama-sem-ser-gay, nunca me senti constrangido em acolher alegrias ou tristezas das minhas amigas.
Acho que o que carece para os rapazes de hoje seja orientação e segurança. Afinal o nostálgico e obscuro pós-punk do The cure cedeu lugar ao feliz, EMOcionante e colorido diabético das bandinhas tristes, que parecem fazer uma versão contemporânea de papéis invertidos de "Com açúcar e com afeto".

Renatinha disse...

Uau. Os comentários também, heim (complementando o que falei no teu blog.)? Mas, meu caro, amigo-godardiano-filósofo-de-boteco-psicólogo-legionário-smithiano não vale. Afinal, os (quase) perfeitos estão em extinção! =)

Wladmir P. disse...

Eu choro feito uma vaca...