Purpurina, glitter, paetês, cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores. Não se pode negar o carisma e a atratividade – bem eufêmica, eu sei – do mundo gay. Ao menos quando se trata de auto-estima e ego, os heteros que me desculpem, mas pose é fundamental. Afora saunas, antros e inferninhos típicos dos homens que curtem homens – tão nojentinhos quanto casas de massagem, puteiros e cabarés heterocafuçus –, ambientes gays são mágicos, pois nos transportam para páginas da Vogue, quarda-roupas de Paris e clipes de Madonna. Primeiro que a produção já é outra; ninguém vai ao bar da esquina pagando coxão e decote, sutiã de oncinha e salto vermelho na nuance do batom. Para ir à balada GLBTS, vale até tirar acessórios do saco de fantasias, somente aberto nos meses de fevereiro. Aquela bolsa “cheguei” que ganhou da tia vai finalmente conhecer as luzes da noite, e a maquiagem da marca Meretriz estampará seu rostinho a la Cher (antes do século XXI, claro). Não importa se o taxista acredita conduzir camélias ousadas a alguma casa de imoralidade; quando você desce do carro, imagina o flash ofuscando seu olhar prateado, enquanto pisa no tapete vermelho da Calçada da Fama. A partir de então, tudo são flores, todos são queridos e a miséria não existe – exceto no caso de um salto ou unha quebrados. A própria Spice Girl, ao lado das amigas de luxo, você não adentra a boate, e sim estreia. Tudo bem que não chegam a aplaudir, mas os olhares são sempre muito sinceros, de aprovação ou vaia. Chegou a vez de levar à vida real (??) as caretas que se ensaiou, desde a infância, no espelho, e também as poses que ilustram os mais abalantes perfis do Orkut. Que importa se somos infelizes? Ali – e no espelho e no Orkut – imagem é tudo, beleza põe mesa e aparência importa. Seja qual for sua opção sexual, se é que você já fez alguma opção, tipo um batizado ou registro em cartório, a intenção é provocar a plateia com seu melhor olhar 43, seu bocão 69 e seu rebolado 24. A soma é o sucesso, a felicidade. Principalmente quando você, já no auge do ego inflado, flutuando de salto, sem sentir os pés – e também pernas e braços...Siga a orientação do Detran: se exibir, não beba –, resolve se transformar na incrível Mulher-Goiaba. Uma coisa é despir-se de preconceitos, outra é despir-se sem conceito algum do que você julga por opção sexual. Você gosta de homens, certo? Por que, num lugar repleto dos mais deliciosos espécimes, voltar para casa sem usar decentemente o batom? Pronto, já passou da “hora de morfar” e aceitou o cortejo direto do rapaz sarado que perguntou logo se você era hetero. A Mulher-Goiaba não só aceita, como beija, beija...e? Só beija, claro. No máximo, um ensaio de amasso, sem o envolvimento de membros que não sejam as mãos, e uma pseudodança do acasalamento. Sim, porque tudo o que você não vai fazer é acasalar. Bibas beijam bem, te enchem a bola, te chamam de ma-ra-vi-lho-sa, mas não vão passar disso, a não ser que estejam altamente doidões, sob efeito, inclusive daquela drogazinha Viagra. Fantasia não recomendada para quem procura namorado, day after ou sexo casual. Mas é sucesso garantido nas fotos do perfil, nas páginas da Vogue e nos clipes da MTV. Mulher-Goiaba vai pra casa sem batom, mas de calcinha; de imagem suja, mas de alma lavada; descendo do salto, mas subindo no conceito da galera In. E, na volta, o taxista ainda dá um desconto, com pena da noite de prazer sensual que você deve ter proporcionado a tantos homens – afinal, pior vida do que a dele você, na dureza da prostituição, deve ter.
6 comentários:
E viva a diversidade ^^
noite tudo.
saltos vermelhos e botas 3x4 é bóia.
:)
te amo
fico impressionada com a tua capacidade de transformar a nossas noitadas em poesia. mas foi poesia mesmo, nao foi?!
putaquepariueuqueromais!!!!!!!
amo.
eu tenho amigas goiabas. ai ai... hj em dia quem não tem ou é? ahahahahahhahaha beijão!!!
Ma-ra-vi-lho-so esse post, como tu, cérebro rouge!!!!!
olhares sinceros em uma boate gay????
rapaz, ja fui em umas, e so encontrei um ambiente de futilidade e falsidade.
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