15 de março de 2009

Spending my time


What's the time? Além de Roxette, muitos já fizeram tal pergunta. Mas, afora o seu sentido literal, pode-se divagar sobre o tempo presente, aquele hoje sobre o qual dá até medo de falar por não termos segurança do que significa. Passamos boa parte da vida concentrados no futuro e obcecados pelo passado. Basta analisarmos o nosso dia. No desjejum da segunda-feira, já estamos neuróticos a planejar o almoço, os pagamentos e os compromissos da semana. O tempo não catatônico que sobra, geralmente nos minutos antes de adormecer, é dedicado às lembranças dos dias (ou meses, anos, encarnações!) anteriores e suas sequelas tatuadas na nossa mente subestimada. Durante reflexões existenciais, atemo-nos ao "de onde viemos?" e "para onde vamos?", uma vez que o "quem somos?" parece absurdamente desagradável de exercitar, não se sabe bem por quê. Se ensaiamos alguma coragem para fazê-lo, logo surge a grande idéia de assistir a um filme, voltar ao livro sem fim da cabeceira ou escrever um post inútil no blog. Como nos organizar para atingirmos aquela felicidade tão natural quanto picolé de tuti-fruti que nos apontam os best-sellers pós-modernos cifrônicos e alienantes (para reconhecê-los, observe se o título traz palavras como queijo, inteligência emocional, enriquecer, pro-ativo...)? Fácil nos transpormos para o futuro ideal das miragens consumistas ou românticas...até lembrarmos o nosso passado, o que não fizemos e os feitos errados. O banzo do hoje chega de novo. O tédio de nos constatarmos automatizados por recordações lobotômicas que já nem sabemos se foram reais e também por vislumbres de um futuro nervoso, ansioso, quase esquizofrênico da satisfação plena dos nossos desejos de agora. E agora? O que fizemos dele? Dispendemos o mesmo esforço para vivermos bem nossos dias? Levantar mais cedo, preparar um café-da-manhã especial, depois de observar o céu azul-gritante do terraço, usar o sabonete importado no banho demorado, produzir-se com o melhor do guarda-roupa, ir de táxi, pôr em prática idéias outrora vagas no trabalho e pregar uma figura de Klimt na repartição. Completar as palavras cruzadas enquanto espera a vez no consultório médico, de onde se sai direto para fazer os exames solicitados, que, dessa vez, não vão perder a validade da requisição. Na volta para casa, jogar-se no chão com as crianças para uma sessão de arte na cozinha, onde farão biscoitos, com direito a sujar roupa e mesa. Antes do sono, escrever aquelas linhas pendentes, telefonar para os amigos esquecidos e esmagados pela nossa ânsia por amanhãs que nunca chegam. Outro banho perfumado, um filme intrigante, ler Neruda ou Espanca com taça de vinho e castanhas. E a única preocupação, ao dormir, será a de como os lençóis novos parecem confortáveis. Nesse exercício de aqui-agora, nosso tempo é hoje. E também a nossa perda contemporânea será a de cada dia. Agarrar já as oportunidades que poderiam ficar para o superlotado amanhã. Comer a cereja primeiro. Permitir-se o desfrute destinado a um tão longe e arriscadamente inexistente fim de semana. Desligar a tecla Remember. Sentir-se ato e não plano. Talvez aprendamos a conjugar o tempo presente por um método mais leve do que o do arrependimento futuro daquilo que não se fez no passado por atropelamento do hoje.

7 comentários:

Juliana Coelho de Andrade disse...

Poxa, acho que tu deu uma iluminada no escuro caminho dos 30... mas eu como a cereja primeiro, compro uma roupa hj e uso ontem, etc, etc, etc... isso me aliviou bastante!

Tu é f...

Bjão
Obrigadinha
=D =D =D

Anônimo disse...

Nosso tempo eh hj ? não tenho espaço no seu agora. posso esperar o amanhã nesse caso?

Paranóia Ululante disse...

Caramba, Nate, teus posts tão divinos. Que lindo ter uma amiga que escreve tão bem, que delicadeza.
Te amo.

caracol menina ~° disse...

eu tô gostando muito de ler seus pensamentos. sério.

este post me lembrou uma frase: "E, quando o presente é feio e o futuro incerto, o passado vem nos sempre a memória como o tempo em que fomos felizes."

e acrescentando, é como se passado e futuro servissem de consolo, qdo o presente desagrada.

^^

=*

Anônimo disse...

Se eu escrevesse qualquer comentário a respeito desse post, estaria profanando a literatura poética e divina dessa q é, e sempre será, a minha poetisa predileta. Pena q só descobri esse blog agora. Mas como num se deve lamentar o passado, aproveitarei o agora para deliciar-me com os comentários geniais da - desculpem-me a intimidade - minha querida amiga Tatá. Aliás, já estou salivando somente com esse aperitivo.

Renatinha disse...

Fred, não acredito! Como me achaste? Tás no Japão? Saudade, Cocô! kkkkkkkkk. Obrigada pelas palavras sempre doces. Tu foste dos poucos q leram aqueles meus poemas adolescentes. hehehee. Beijão, e venha sempre provar o tempero!

Xeros pros outros queridos tb =***

Anônimo disse...

Tô ainda sim no Japão, Renatinha! Achei o blog pelo seu nick no msn. Quanto aos poemas adolescentes, tenho que dizer já eram pra lá de adultos!

Bjs do seu fã!