29 de dezembro de 2007
Internet periguet
A internet está para a solidão assim como a faca está para o queijo. E, se o mal do século é essa mesma solidão, conforme o poeta Russo, ("cada um imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição". Verdade), nada mais cruel com o coração do que a dita cuja e seus seguidores. Na desculpa de aproximar as pessoas, ela cria abismos e montanhas, por vezes, instranponíveis. É tudo tão simples, prático, indolor: liga o PC e...boom! Tá lá online o homem da sua vida, que, claro você ainda não teve a chance de conhecer de verdade; ao menos não os defeitos. Mas quem liga pra defeitos? Deixa isso pra depois que se aproximarem fisicamente...e quando será mesmo? Ah, vamos ver as tarifas promocionais da GOL. Nããããão, ela não está online, logo saiu com aquele amiguinho dela, que de gay não tem nada. Rá, essa vagabunda tá pensando que é quem pra deixar esses recadinhos melosos? Por isso ele não me chamou...saiu com a quenguinha! Quem é esse filho da puta que comenta no blog dela com a maior intimidade? Dá o fora, porra; deixa minha mulher! Não, não é minha namorada; não, nunca nos falamos a não ser pelo chat...ah, vai, minha sim! Não, não dá pra conversar numa boa contigo; melhor pararmos de nos falar; pronto, acabou! ...
Não fosse o msn, talvez as pessoas se esforçassem mais pra se encontrar e talvez valesse a pena não se contentar com pouco. Não existisse o orkut, menos corações seriam partidos na descoberta de cabeludas traições ou na leviandade daquilo que parecia ser amor. Pessoas cegas, mas felizes. Desinformadas, mas bem servidas. Menos nóia, menos mal-entendidos; menos interpretações loucas sobre o que se vê e se lê. Talvez até mais sexo. E sorvete no domingo. Quer namorar comigo? Só se você botar no status do orkut, claro. Ah, e tem que ter foto casalzinho no perfil e depoimento apaixonado. Se não estivesse tão escancarada a agenda "Dias diferentes, gatas alternadas" dele, eu continuaria achando que estava interessado em mim. Ah, menina, relaxa; se não houvesse o orkut, irias superdimensionar os sentimentos dele, te tornarias uma tabacuda apaixonada e ainda comprarias gato por lebre. É, santa internet! Volta pro mar, oferenda! E ainda reclamam de solidão, de que não acham alguém pra compartilhar a triste vida. Deve ser aquela coisa: "vou esperar pra ver se aparece alguém melhor". Quem espera sempre alcança. Só que poucos esperam. E quem vier se queixar de estar só pra mim de novo mando arrumar uma lavagem de roupa, um cachorro pra dar banho ou um blog pra escrever asneiras!
28 de dezembro de 2007
Nem é verdade
L'Aventura
(Renato Russo)
Quando não há compaixão
Ou mesmo um gesto de ajuda
O que pensar da vida
E daqueles que sabemos que amamos ?
Quem pensa por si mesmo é livre
E ser livre é coisa muito séria
Não se pode fechar os olhos
Não se pode olhar pra trás
Sem se aprender alguma coisa pro futuro
Corri pro esconderijo
Olhei pela janela
O sol é um só
Mas quem sabe são duas manhãs
Não precisa vir
Se não for pra ficar
Pelo menos uma noite
E três semanas
Nada é fácil
Nada é certo
Não façamos do amor
Algo desonesto
Quero ser prudente
E sempre ser correto
Quero ser constante
E sempre tentar ser sincero
E queremos fugir
Mas ficamos sempre sem saber
Seu olhar
Não conta mais histórias
Não brota o fruto e nem a flor
E nem o céu é belo e prateado
E o que eu era eu não sou mais
E não tenho nada pra lembrar
Triste coisa é querer bem
A quem não sabe perdoar
Acho que sempre lhe amarei
Só que não lhe quero mais
Não é desejo, nem é saudade
Sinceramente, nem é verdade
Eu sei porque você fugiu
Mas não consigo entender
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22 de dezembro de 2007
Dezembro
Luzes que fazem a noite brilhar como o coração diante de novos sonhos. Dinheiro no bolso; saúde pra dar e vender. Presentes e presenças. Latentes as ausências. Papai Noel ou pessoa cruel. Saudade do que se foi...e do que não foi. Saudade que não se foi junto com o calendário velho. Sol quente pra derreter o iceberg cardíaco. Confraternização sem fraternidade. Amigo secreto sem amizade. Peru e rabanada sem vontade. Talvez um sorriso de verdade. Esperança de dias melhores; ao menos na cor das calcinhas. Espumante e banho de mar, sete ondinhas. Lágrimas e a ficha da solidão caindo certeira. Solidão e fichas apostadas no fim certo das lágrimas. Vontade de estar com ele. Estar com ele sem vontade. Mãos dadas sem calor. Suor pela mão querendo se dar. Nó na garganta; nó na gravata. Nó nas tripas; nó nas camas...nós em chamas; nós...quem chama? Voz de quem se ama; o amado que não tem voz; voz que falta; voz que não se merece ouvir. Ouço fogos...acabou dezembro! A gente é fraco, cai no buraco; o buraco é fundo; acabou-se o mundo. Mais doze meses pra chegar o mês doze, o melhor e o pior dos tempos, que arranca máscaras e provoca verdades. 5, 4, 3, 2, 1...bem-vindo, ano par!
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17 de dezembro de 2007
Sem fé
Povinho escroto esse tal ser humano. Queixa-se da solidão, e afasta boas companhias; clama por atenção, e negligencia; chora leite derramado, e derrama outros litros; revolta-se com a mentira, e foge da verdade; reclama da fome, e nega o pão; diz que ama o feio, mas este não lhe parece bonito como o ditado; cativa, e não mantém; conquista, e renuncia; luta, e abandona a batalha; sorri, e faz sofrer. E nesse paradoxo de carne, osso e alma (sebosa ou penada) perdi a fé.
14 de dezembro de 2007
Chuva
Tão ingênuo acreditar
Que a vida será diferente
Se na alegria já se pressente
Estrondo grave, trovão do penar
E por que, ao se assustar,
A gente não se defende
E se protege, demente,
Para não ter de enxugar
A chuva, que teima em cair
Relâmpago claro a partir
O peito já dolorido?
Mas não adianta entender
Por que se merece sofrer
Se tudo já foi diluído.
10 de dezembro de 2007
Quem casa quer caso
Nem é maio, o (brega) mês das noivas, mas falar de alianças me ocorreu novamente. Isso porque, na mesma época, dois amigos me vêm se queixar da existência e da ausência, respectivamente, dessa instituição tida como essencial na nossa falida sociedade. Ele chorava suas pitangas por ter mais de 30 e ainda estar solteiro: "Sensação de ter feito nada na vida; não tenho um filho, moro com meus pais!", numa pausa de sua agitada e bem-sucedida vida profissional, acadêmica e social. Ela manteve os olhos secos ao ser acusada de que falar na simples existência do marido era-lhe triste, apesar de sua árvore de Natal já estar garantida ao lado dos porta-retratos da família feliz: "Não estou disposta a abrir mão de algo pelo qual tanto lutei", soltou. Meu ímpeto não seguido fora o de colocar ambos frente a frente e ficar observando o diálogo, se ele se desse; e tive dificuldade para me responder se estava ou não ficando louca. Só eu vejo pessoas se casando num mês e se separando no outro? Só eu vejo dor, frustração, mágoa, ódio entre casais que não se afinizam por laços mais puros? Sou fria demais (como dizem tantos) ou, ao contrário, uma romântica absurda (outros tantos)? O padre "fazedor de amores eternos" talvez possa me explicar por que é tão importante para o homem e a mulher formar família instituída a partir de tão fraco argumento chamado casamento...Quiça se atreva o magistrado "sabido" das leis que regem o matrimônio. Ou nossos avós, se a eles tivesse sido perguntado. Longe de mim assumir a identidade de Super-Odeio-Casais-Felizes, até porque já fui parte feliz e infeliz de casais. Meu Oscar-Rebeldia vai para a regra pré-escolar de que os seres vivos nascem, crescem, (casam), se reproduzem e morrem. Casar é objetivo de vida de muita gente, Nossa Senhora dos Coitados! E o que há de errado nessa constatação do óbvio é que não importa com quem se casa, nem o porquê. "Ah, tô ficando velha", "Poxa, ele vai ser um bom pai para meus filhos", "Mas é que não agüento mais viver com meus pais"...Como se casamento salvasse alguém. O que "salva" é ser o que se quer, não se frustrar, sentir-se em paz com ou sem alguém. Nem vou citar o amor, porque seriam outras tantas escritas...Mas o que vejo é a superficialidade tatuada em quem aposta no casamento como meta, nirvana, supra-sumo. Ser feliz e, portanto, casar é oração de sintaxe distinta de Casar a fim de ser feliz. Viva o que se une pelo coração, e não por motivos mundanos como status ou psicóticos como carência! E se o anti-cupido aqui aconselhasse a moça a trocar o marido pelo rapaz com mais de trinta? Ambos estariam felizes nos seus objetivos...e com os mesmos quatro olhos perdidos. E eu teria certeza (por enquanto apenas suponho) de que estou em pleno episódio de Além da Imaginação.
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5 de dezembro de 2007
As leis do compromisso
Compromisso é quando se compra um anel caro e se obriga o parceiro a usar para que fique clara a terceiros a posse de um sobre o outro. Ao menos é esse o conceito que parece nortear os relacionamentos. Só valem os contratos. Namoro, noivado, casamento, caso, amizade, parentesco, coleguismo, inimizade. Quando tudo se institui, passa a valer certa codificação com normas obsoletas que regem o compromisso. Fidelidade, honestidade, lealdade, bem-querer, respeito, gentileza...É, algumas normas em desuso, como disse. Os pactos sociais ainda são os que valem no mundo hipócrita de revista Quem, álbum do orkut e domingo na praia. O beijo apaixonado na esposa pode ter se tornado ornamento no porta-retratos; no orkut, os sorrisos brilhosos do grupo de amigas hermanas ostentando seus drinks numa noite ímpar podem não resistir ao dia seguinte, quando uma delas pede apoio além-bar; o atar das mãos na ceia de Natal pode se desfazer na volta pra casa, antes do deitar. Rótulos e bulas, mandamentos e dogmas, instituições e convenções...compromisso? A verdade que falta nas fotos pode valer na relação com o porteiro do prédio, o garçom, a avó da amiga, o desconhecido da internet, o estagiário. Se não há respeito entre as partes de contratos sólidos e assinados, que dirá nos relacionamentos avulsos? "Não temos compromisso" virou senha de acesso a justificativas de atitudes incovenientes. Traição, descaso, acusação, sabotagem, abandono, desrespeito...nada disso existe mais, por culpa do não-compromisso! "Não sou, logo não devo". "Não é minha responsabilidade"...argumentos não faltam. Sobram corações partidos, sentimentos banalizados, laços desfeitos do que nunca se fez. Laços concretos e também abstratos, como tinha o casal de mendigos do sensacional filme Dolls, escravo de sua culpa, compromissado com o amor, alianças em outras mãos.
Eu creio no compromisso com o próximo e leio a cartilha Todos merecem respeito. Como aprendiz, erro, cometo delitos, negligencio às vezes a norma da gentileza comum. Mas acredito na lei do Bem Comum e me enquadro nessa constituição. Mesmo quando estou no banco dos reús, após sentenças difíceis.
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