14 de junho de 2010

Lettera

Era para ser sobre futuro. Mas quem poderia prever algo além do aqui e agora? Pôs-se, então, a rabiscar sobre o que já se fora, mas acabou jogando fora meia dúzia de papéis de pauta borrada. Embora a mão suasse e tremesse um tanto, escreveu sobre o que se passava naquele exato momento. Fôlego e água, por favor. Muita verdade de uma só vez. Melhor apagar...e se alguém visse? Não, deixa. Já eram duas páginas mesmo. E três horas. E um calor. A cabeça pesava, mas o peito se abria. Bom aquilo. Não poupou vocabulário; disse tudo. E sublinhou, até, os trechos mais íntimos. Ao ponto final, acrescentou duas lágrimas. Depois foram mais. E dobrou os papéis, apertando-os, em seguida, contra ao peito, como nas mais clássicas cenas de novela. Não enviaria. Verdade é bom, mas doi. Melhor prender-se àquele futuro não descritível ou recordar o passado dolorido. Guardou o envelope naquele livro de poemas, que um dia poderia chegar, por acidente, àquelas mãos. Bem cafona assim, como vambora, na cinza das horas. E o livro nunca sairia daquela estante. E esse nunca também valeria para a carta, o presente. Esqueceu-se também da verdade. De tanto esconder.       

4 comentários:

antonio disse...

La carta...bueno!

Eduardo disse...

Acho que esse tipo de carta a gente acaba escrevendo pra gente mesmo não é?
Eu costumava escrever em guardanapos de papel, enquanto tomava café. Depois de um tempo só me sobravam os fragmentos soltos, as vezes a página 3 e a 5.

Pow, lindão o novo layout, fiquei com inveja (boa). Quem bom que voltou a postar nos pares ^^.
=******

M. disse...

Eu queria ser o seu caderninho/ Pra poder ficar juntinho de você

caracol menina disse...

esqueceu-se da verdade, pois ao transferí-la para papéis, não precisava lembrar.
Eles, os papéis e a tinta que se encarreguem disso.