
Passam fácil, rápido, ora invisíveis, assim como os carros na avenida dia de sexta. As pessoas vêm e vão, são, mas nem sempre estão. E ainda assim vivemos como se estivessem. Assim pra sempre. Assim quando a gente quer. E pro que a gente quer. Deve ser por essa certeza burra de que elas sempre voltam que não aproveitamos o que cada uma tem pra oferecer. Ou extraímos o pior delas, tomando as piores atitudes, como o descaso. Ter segurança de que se pode deixar pra depois aquele jantar com um amigo de infância, o encontro bobo com a avó ou a viagem pra se aproximar de alguém que se admira nos faz displicentes, negligentes e indecentes. Colocamos empecilhos, deixamos pra amanhã, ficamos no superficial, discutimos, tememos, afastamos, machucamos, escondemo-nos...fazemos tudo como manda o livro Somos Eternos e Estamos a Disposição. Só que o tempo é cruel, a vida terrena é fulgaz e o pra sempre não existe. Quando vem a morte, a separação ou a distância de forma geral, o nó na garganta não desata, e se implora pra voltar no tempo. Mas as pessoas passam fácil, rápido, ora invisíveis, assim como os carros na avenida dia de sexta. E nem assim a gente atravessa com mais cuidado.