13 de fevereiro de 2009

Planeta Carnaval

Quatro dias para se libertar dos papéis sociais de filha, chefe, marido, desempregado, desportista, rico, pobre. A fantasia de Carnaval pode servir bem a esse intuito de muitos. Personas que, nesta época gloriosa, dispendem eforços, cédulas e neurônios para encontrar o look mais irreverente e bonito, mas que também investem no maravilhoso poder de Momo para esquecer a rotina e vivenciar um mundo paralelo de alegrias e alegorias. A escolha dos adereços denuncia, portanto, quem você deseja ser nesse adorável mundo novo. O super-herói que tudo pode e tudo faz; as sedutoras dançarinas de cabaré, vampiras e diabinhas; os palhaços bonachões. Ao fincar o pé na cidade ladeirosa, abre-se a passagem secreta para esse universo platônico, onde a máscara eterniza o sorriso e a purpurina passa a ser o seu sangue e seu suor. Lá não tem classes sociais, responsabilidades, medo, timidez, intriga, inveja. Plumas nos dão asas, cores nos fazem bons, músicas nos tornam irmãos. Dar adeus a esse mundo, nas Cinzas, é triste e melancólico, pois a vida real não permite felicidade. Roubamos, portanto, punhados de confetes pisados, pedaços de chita suada, um batom quebrado...com a intenção de, vez em quando, na clandestinidade, vestirmo-nos da alegria que esta realidade ainda vai experimentar, numa época vindoura, quando formos verdadeiros pierrots e colombinas, passistas a bailar. Enquanto não chega esse mundo ideal, sejamos uma versão melhorada de nós no planeta Carnaval.

11 de fevereiro de 2009

Vacina de coração


O mal de abrir um coração aparentemente protegido, diante de pequenas emoções, é que elas podem evoluir em proporções não permitidas. E, se são proibidas, pelo risco que causam à também aparente estabilidade emocional, devem ser reprimidas? Ao responder que "não, só dessa vezinha", sob a desculpa de não haver perigo, damos a brecha que o tal músculo involuntário precisa para tomar conta de todo o resto. Instalado o vírus emocional, não há anticorpos que defendam as mãos de tremer, a mente de se confundir e o peito de doer. Quando se opta pelo equilíbrio, pela calmaria cardíaca, não é bom soltar as amarras. Precisa-se de vacina, e ela só pode ser fabricada, como no caso das cobras, a partir do nosso próprio veneno. Buscar o antídoto dentro do coração vagabundo, que quer guardar o mundo em si: eis a fórmula. Repressão, auto-controle, distância, meditação...vale tudo para não quebrar em pequenos cacos o que já não suporta mais remendos.

8 de fevereiro de 2009

The Best

O problema está em querer ser o melhor em, pelo menos, uma coisa; a Síndrome do Especial; a mania de crachás e títulos (talvez medalhas e troféus). Embora muitos de nós declaremos simplicidade, falta de espírito competitivo, cuca bem resolvida, queremos, a todo custo, ser lembrados por alguém como referência disso ou daquilo. De preferência, que esse alguém nos ache a mulher ou o homem da vida dele, mesmo que já esteja em outra. Ou também podemos ser os melhores amigos, os grandes filhos modelos, as paixões devastadoras e memoráveis. E tudo o mais que nos faça acreditar que somos mais do que um palito de fósforo na caixa plena. Contos de fadas, incentivo dos pais na infância, competições desportivas, vestibulares...os fatores externos até que podem contribuir para a nossa vontade de ser mais e melhor. Mas essa necessidade de marcar, tatuar, incomodar, abalar só denuncia nosso descrédito frente ao espelho. Nossa auto-estima pode até nem estar lá embaixo, todavia não se pode considerar o bom estado diante dessa cobrança incansável por destaque. Pode não ser como a gente quer nem com os louros sonhados...mas certamente somos bons em alguma esfera; e não necessariamente precisamos ser melhores do que os outros. Quem precisa da comparação com terceiros para acreditar-se bom carece de aprender mais um pouco sobre como estar bem consigo. Ela está com outro, ele escolhe outras, ela não se importa comigo, ele não me percebe...deixa estar. Com as voltas deste mundinho redondo, não há vencedores, derrotados, nem mesmo as batatas. Nossas escolhas e até certas interferências supremas nos farão subir ao pódio na maratona por nós mesmos. E, se precisamos de troféu, que ele seja não dourado do reconhecimento alheio, mas reluzente o suficiente para fazermos bem com o pouco que somos.