Existem mais coisas entre o cérebro e a retina do que supõe nossa vã filosofia. Mas uns supõem mais do que outros. Alguns menos. Ver, observar, perceber e compreender nem sempre são verbos similares/complementares ou mesmo coexistentes. Para cada fato concreto corresponde uma visão abstrata, uma danada de uma interpretação que teima em distorcer, super ou subestimar e até inexistir em determinados casos. A visão turva, essa miopia triste ou um astigmatismo crônico acontecem muito quando os fatos envolvem emoções atrapalhadas do coração. E é por culpa desses males que ficamos cegos perante o óbvio, muitas vezes. Alguém que vê o desinteresse do outro e, esperançoso, desenvolve uma hipermetropia capaz de enxergar além dos fatos, enganar-se com miragens provocadas por sua sede não satisfeita ou correspondida. Outrem que sequer altera suas impressões oculares diante da paixão escancarada de quem ocupa a ala de amigos no seu peito, mas gostaria de visitar cômodos mais quentes. Pior cego é o que não quer ver...porque ele enxerga, mas não assimila. Percebe, mas não crê. O que vê é o que deseja, o que satisfaz seus olhos como colírio. Lentes corretivas, filtros, películas, líquidos que desembacem: vale tudo para olhar o que existe de fato. Ver o óbvio e se convencer pode poupar boa parte das desilusões, próprias ou alheias. Óculos podem até dar charme e distinção. Mas nem todo cego gostaria de poder usá-los.
24 de janeiro de 2009
22 de janeiro de 2009
Filosofia de praia
A - Pois eu só uso maiô. Na verdade, apesar de não gostar do meu corpo, faria plástica no nariz.
B - Eu tb. Só para afilar mais. Se bem que uma lipo seria perfeita. Um dia farei.
C - Na boa, eu mudaria muita coisa no meu corpo, pois sou cheia de defeitinhos. Mas, com o valor de uma plástica dessas, faria uma viagem massa.
B - Mas levaria o corpo junto.
C - Antes um corpo feio em Paris do que um lindo por aqui.
A - Se você fizer plástica por homens, realmente. Tem que ser por você, pra você se gostar.
C - Mas eu me gosto. Não tenho problemas comigo. Se os homens tiverem, eles é que não são páreos para mim!
A, B - Isso! Outra cerveja então!
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futilidade produtiva
16 de janeiro de 2009
Fim de novela
Mulheres grávidas, casais felizes e pessoas ricas. Nem sempre assim terminam as novelas. Principalmente as da vida real. Semelhante às mexicanas, as historinhas de carne e osso têm dramas previsíveis, mas os capítulos derradeiros podem não incluir filhos bastardos, parentescos inesperados e incríveis descobertas. A vida crua tem de seus finais, embora muitos ainda não tenham atentado para seu caráter cíclico e para a ausência de "pra sempres" e "nuncas mais". Conclusão de etapas, pois, podem ser encaradas como términos, fins de linha, the end, e tal fato não precisa ser necessariamente ruim. Mudar de emprego, acabar o namoro, trocar de endereço, desprezar hábitos antigos. Todo fim implica começo, e começo é sempre delicioso. Dois amigos, de sexos opostos, estão sofrendo por descobrirem finitos seus respectivos relacionamentos com pessoas que julgavam suas. Idéias de posse, de exclusividade e de fatalismo tornam mesmo as rupturas difíceis. Melhor pensar que tudo pode ter fim, que o dia de amanhã é incerto e que ninguém (ou nada) é de ninguém. Dessa forma, o peso do fim não nos arremessa ao fundo do poço e terminar algo só vai dar a sensação de aprendizado para novos começos. Há algo melhor do que renovar a esperança no desconhecido, sem temer a drasticidade dos fatos? Mocinhos e vilões, bonzinhos ou psicopatas, coadjuvantes ou protagonistas. Precisamos apenas de um bom roteiro e de finais imprevisíveis.
2 de janeiro de 2009
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