8 de junho de 2008

Confissão

Odile Redon, Les yeux clos

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
……………………………………………………..
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

(Florbela Espanca)

3 comentários:

Venus in Furs disse...

Florbela é tão a gente!

Unknown disse...

Eita, agora que reparei no "layout" e entendi o lance dos dedos. Depois me chamam de loiro e eu penso que se referem ao cabelos.

Ah, vi sua resposta de que morgasse com o alemão. Sei que prefere la lengua española, mas se puder continue. Não tem coisa mais interessante que línguas, aliás, tem sim, mas também tem a ver com línguas, né?

Adoro Florbela, mas acho que a senhora poderia colocar mais coisas escritas por ti. É, quase sempre, uma delícia ler você.

Besos.

Renatinha disse...

Huum...se depender de vc, Ma, não faltará inspiração. Principalmente se te acompanhar vendo boto nas aventuras do mato! hihihihi. "Morgasse com o alemão" foi tão pernambuquês! =). Besos, mi cariño!

Concinha, essas mulheres da nossa vida...aiaiai. Se elas soubessem! Beijocas, linda!