19 de dezembro de 2010
O adeus e o por-do-sol
Mal lhe disse adeus, embora quisesse seguir com ele, ou mesmo aceitar o seu até logo. Se fosse um logo. Não pôde, no entanto, usufruir da dor daquela despedida. Não porque ele não soubesse que se tratava de uma, mas por causa da mania dela de sufocar. Engoliu o fim, como sorvera antes tantas vontades, mágoas, goles de um amor que não se ia. Não podia chorar aquele último ato de algo tão intangível quanto real. E, por isso mesmo, tão difícil de se esquecer. Pior seria insistir nas ilusões que se alimentavam a cada cotidiano compartilhado, cada sonho fabricado, cada doçura exalada. Perto dos açoites da realidade, elas mais do que morriam, matavam. Que explodissem dessa vez! Não podia mais ser tão feliz ao seu lado sem estar, de fato, ao seu lado; e, portanto, estar tão triste. Sentir-se tão plena nas esmolas do tempo que ele lhe doava, e tão partida a cada ausência cruel. Chegara o momento de ir, mesmo que ele nem se desse conta. Estariam ambos ainda tão perto - e os sentimentos solitários ainda tão atados àquele que a idolatrava de um jeito tão sagrado que doía...O futuro, no entanto, a chamava para outros tempos. Outros sonhos, talvez. Sabia que as tardes não teriam o mesmo gosto de vida. Mas havia chegado a hora de desvencilhar-se daquela vida alheia, que pertencia a outras tantas que não à sua. Que os dias não fossem tão cinzas sem o sol que tanto se pôs a nascer na sua janela. Que o porvir trouxesse a paz necessária a um entardecer ameno.
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2 comentários:
Que belo texto jornalista. A vida tem dessas partidas não é?
Espero que as chegadas sejam melhores.
Bjão Jornalista, feliz natal.
É noite de Natal quando leio teu post. E, menos pela data e álcool na cabeça do que pelo que fiz na vida, sinto um aperto na garganta. E quem aperta sou eu mesmo.
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