26 de dezembro de 2010
Mulheres ruminantes
Pode guardar no bolso a piadinha óbvia de deduzir da expressão a figura vaca. Trata-se sim de pessoas que ruminam, de mulheres que ruminam algo além do capim - igualmente propício a exaustivas mastigadas -: sentimento. Era assim que ela se sentia, disse à amiga enquanto brincavam. Sim, após uma noite de vinho, Roberto Carlos, castanhas e muito chocolate, restava-lhes o desafio de montar o brinquedo novo das crianças, que, apesar de recomendado para a faixa a partir dos 5 anos, custou-lhes de 40 a 60 minutos. Era como tentar compreender aqueles homens - matos indigestos que, sabe-se lá como e por que, estavam ali nos compartimentos estomacais do coração. "- Estranho como realmente me sinto ruminar todos os amores. Posso sentir o gosto amargo agora mesmo", traduzia. Talvez por reflexo, a amiga pôde sentir certo fel nas papilas gustativas. Ruminava também mágoas de outrora e de pouco atrás, todas juntas, como formassem um musgo travoso de umbu-cajá. Devia ser o fim de ano. Ou o vinho que avinagrava depois das tantas. Sentiam-se, no entanto, empachadas mais de um sem-fim de frustrações do que qualquer alimento em demasia. Talvez fosse a hora de digerir de vez ou de botar pra fora cada rancor mal engolido, cada azia suportada, cada amor posto goela adentro. Podia ser difícil como o jogo de montar infantil. Mas havia de se conseguir, mesmo que muito tempo depois do limite recomendado para maiores de 5 anos.
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Um comentário:
ainda bem que tenho parentes no interior que usavam a expressão "tô ruminando minhas ideias" quando queriam dizer "tô pensando no assunto".
foi o que me veio à mente quando vi o título do post...
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