26 de agosto de 2010

Sobre realidades e bobagens

Era bem daqueles filmes que só passam em canal marromeno de TV a cabo. Dos que duram umas três horas só pela quantidade absurda de intervalos comerciais - sempre repetidos. Mas aquela história da mulher atordoada dentro de realidades paralelas - ou diferentes destinos -, que complicavam de acordo com a caixinha de música do diabo - pode rir! -, me fez lembrar de como somos tantos. Não todos nós, assim em número absoluto, ou naquele papo de um por todos e todos por um, mas pela reflexão de que cada um de nós vive um montão de vidas e desempenha papéis múltiplos e até opostos.  Nada de Matrix, A origem ou psicodrama. Nem é disso que falo. Mas de como os pequenos intervalos de lucidez de que gozamos - podiam ser pra sempre - nos abrem os olhos para o fato de que nos iludimos um tantão em cada momento, do estilo estético às profundezas do self. Indício: aquelas lembranças que te dão vergonha, que você não consegue compreender como pôde fazer ou sentir aquilo. "Como aconteceu?". Se for fundo, a gente vai sacando o quanto somos idiotamente mutantes, dissimulados conosco mesmos. E como alimentamos ideias burras frente ao espelho. A pessoa constroi uma autoimagem altamente distorcida, faz um monte de bagaceira e ainda acha incrível como teve capacidade de agir de tal forma. Nos raros surtos de lucidez, vamos aprendendo o beabá da gente, o mandamento de Sócrates de autoconhecimento, e nos deparamos com fraquezas antes inconcebíveis. Quase todas, inclusive, que gostamos de apontar nos outros, como autoestima problemática, insegurança, blablabla. E nem temos o poder da caixinha de música. Mas, na dúvida sobre o que é real, pode-se quebrar uns espelhos, dar-se uns beliscões ou incorporar de vez os papéis de protagonistas - no palco, no picadeiro ou na tela medíocre da TV.

4 comentários:

Wladmir P. disse...

Não sei se acontece com todo mundo. Mas, às vezes eu sempre me confundo sem saber onde termina o personagem e eu começo.

Lucas Pereira disse...

o poeta porralouca-mor já dizia: "eu PREFIRO ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...".
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em tempo: pus o verbo preferir em caixa alta por considerá-lo a "alma" da ideia do autor...

vivi disse...

é tão bom ver sem véus. mas isso é por alguns instantes, pq o tempo inteiro é pra endoidar o cabeção!
feliz, amore!!!!

Eduardo disse...

Jornalista, hoje eu tô procurando dar mais risadas daquelas ditas cujas lembranças que você acabou de mencionar. Acho que acaba sendo parte do nosso projeto evolutivo para fazer comédia da tragédia.
Pior é que depois de um tempo você acaba sacando que está mentindo pra sí bem no momento em que está mentindo pra sí mesmo. Ou quando se pega de repente falando sozinho "Tá vai lá..., como se você não soubesse onde isso tudo vai dar..."

Até as mentiras, quando bem usadas, tem sua função na nossa regulação espiritual. Pelo menos, antes de sair, de vez em quando me pego passando no espelho da sala e dizendo "Poxa gordinho, até que hoje você está bonitão", e quero ver 2h de ônibus, até a cidade, abalar meu bom humor pela manhã. hahahahaha

Só você mesmo pra escrever esses textos.
Bjão