16 de abril de 2010

CDF

Só mesmo sendo de ferro para suportar tantas horas na cadeira, frente ao computador. Em outras épocas, era possível estudar na cama, na rede, no chão...afinal, folhear livros e rabiscar papel pautado bastava. Voltar a ser estudante em tempos de tecnocultura, produção instantânea e otimização do tempo exige mais esforço. Ler, compreender, assimilar, resumir, resenhar, apresentar: tudo ao mesmo tempo, do livro ao PC. Mas o maior esforço parece ser o da abstração. Engraçado como, durante o tempo em que dedicávamos nossas horas a outras atividades, era difícil imaginar-se tão concentrada. Não importam a TV da sala em alto volume, as conversas familiares, os 300 mil telefones tocando e os dois milhões de teclados barulhentos ao lado; sua mente está a mil por hora, e tudo por causa de letrinhas miúdas xerocadas. Se o tempo é escasso, nada impede de ler um bocado na fila do banco, uma coisinha no banheiro, pedaços de madrugada. E o programa preferido do fim de semana? Livro com vinho. Uma delícia! Com muitas horas de atividade mental e poucas de sono, não dá pra ser diferente de chata. Você vai farrapando com os amigos, deixando de alimentar as redes sociais da web, abre mão de ser pop...até receber a alcunha de cdf. Pronto. Aquela figura de garoto ruivo norteamericano com óculos fundo-de-garrafa e você são a mesma pessoa, e só lhe restam livros e chocolates. O telefone já toca menos, a barra inferior na tela pisca pouco e as pessoas até nem fazem tanta questão de lhe contar piadas. Encarnado o espírito cdf, você sofre de excesso de lucidez, tara literária e instigação acadêmica...e quem quer ouvir sobre teóricos e teóricos? Esse estigma, no entanto, não é de todo ruim. Ficar mais sabida, conhecer pessoas inteligentes, aproveitar melhor o tempo e construir futuro compensa os sacrifícios e os rótulos. Afinal, passar horas no computador navegando em nada, dar atenção a gente fútil e fazer programas degradantes parece ser a fórmula real - embora travestida de modernidade - da solidão. Cdf dialoga com gente boa na leitura, valoriza os bons e fieis amigos de verdade e ainda paga meio ingresso no cinema (quando é possível). E quem achar ruim que vá naquele canto...que o meu é de ferro!

5 comentários:

caracol menina ~° disse...

wow!

é.. entre a fase x, y, g, z, o que permanece em nós é a essencia. continuar a escrever, a ler, a tomar a bebida favorita, a rever aquele bom amigo, que independente de estarmos POP ou CDF quer saber "como vc está" de verdade (e pra esses a gente arranja um tempinho sempre. sejam minutos, horas ou uns dias aleatórios) num programa mais simples/bobo, porém o melhor pela companhia.
mas vc esqueceu de falar da falta de cuidado com a beleza que às vezes tbm acontece. unhas, depilação, cabelo...

Crê-se então que esta é vida, real, dura, mas que pode ser super bacana!!
Depende de como encaramos as situações/mudanças. E vc realmente está mais sabida ao observar o lado bom.
Uma grande qualidade.
;D

bjo

Leonardo Xavier disse...

Texto realmente hilário, mas realmente é meio dura essa vida de estudando haja paciência para abdicar daquele passeio na companhia dos amigos para ficar terminando de ler um contéudo...

Eduardo disse...

Poesia cotidiana são seus textos.
Bem vinda, de volta, ao mundo dos nerdinhos. ^^

Juliana Coelho de Andrade disse...

Kkkkkkkkkkkkkkkk... amei o texto!!! E esse ano é nosso, mestraaaaa!!!

=***

Emily disse...

Amei o seu texto, mesmo estudando horas e horas, as vezes a leitura cansa, mas se variar o assunto ela é intensa e interessante. Parabéns.