
Só mesmo sendo de ferro para suportar tantas horas na cadeira, frente ao computador. Em outras épocas, era possível estudar na cama, na rede, no chão...afinal, folhear livros e rabiscar papel pautado bastava. Voltar a ser estudante em tempos de tecnocultura, produção instantânea e otimização do tempo exige mais esforço. Ler, compreender, assimilar, resumir, resenhar, apresentar: tudo ao mesmo tempo, do livro ao PC. Mas o maior esforço parece ser o da abstração. Engraçado como, durante o tempo em que dedicávamos nossas horas a outras atividades, era difícil imaginar-se tão concentrada. Não importam a TV da sala em alto volume, as conversas familiares, os 300 mil telefones tocando e os dois milhões de teclados barulhentos ao lado; sua mente está a mil por hora, e tudo por causa de letrinhas miúdas xerocadas. Se o tempo é escasso, nada impede de ler um bocado na fila do banco, uma coisinha no banheiro, pedaços de madrugada. E o programa preferido do fim de semana? Livro com vinho. Uma delícia! Com muitas horas de atividade mental e poucas de sono, não dá pra ser diferente de chata. Você vai farrapando com os amigos, deixando de alimentar as redes sociais da web, abre mão de ser pop...até receber a alcunha de cdf. Pronto. Aquela figura de garoto ruivo norteamericano com óculos fundo-de-garrafa e você são a mesma pessoa, e só lhe restam livros e chocolates. O telefone já toca menos, a barra inferior na tela pisca pouco e as pessoas até nem fazem tanta questão de lhe contar piadas. Encarnado o espírito cdf, você sofre de excesso de lucidez, tara literária e instigação acadêmica...e quem quer ouvir sobre teóricos e teóricos? Esse estigma, no entanto, não é de todo ruim. Ficar mais sabida, conhecer pessoas inteligentes, aproveitar melhor o tempo e construir futuro compensa os sacrifícios e os rótulos. Afinal, passar horas no computador navegando em nada, dar atenção a gente fútil e fazer programas degradantes parece ser a fórmula real - embora travestida de modernidade - da solidão. Cdf dialoga com gente boa na leitura, valoriza os bons e fieis amigos de verdade e ainda paga meio ingresso no cinema (quando é possível). E quem achar ruim que vá naquele canto...que o meu é de ferro!