17 de agosto de 2009

Seco


O gole é seco, mas o sangue, rubro
Entra assim sem cerimônias teu desejo em mim
Tanto que, às vezes, sorvo e nem percebo
Quanto és tu e quanto sou eu nesse mar sem fim
Nesse sempre inquieto embaçar de lábios mudos

Faz-me triste ou faz dormir
E em Morfeu tanto repousei apenas por tua embriaguez
Fora dela não houve salvação
E talvez nem haja agora maior sensatez

Sei apenas meu não querer ser menos
Que tuas medíocres musas o são
Um complexo de Dionísio paira em meu sangue
E não ver paisagem sob nós já faz vão
Todo o sentimento puro
Todo o amor maduro
Que oferto assim sem querer

Para evitá-lo preciso beber
Mais um gole apenas de tu, vinho
Para esquecer meu solitário caminho
Que nego a tantos somente por saber
Nome e sobrenome da perdição

E só resta clamar à razão
Que me ajuda a dizer que é não!
Que apesar de tão forte empatia
Da nobreza cúmplice de todo dia
Não são meus os teus sabores mais fortes
Nem tem cheiro de mim tua sorte

Sai, então, pelo suor, pelo calor!
Assim some fatiada essa dor
Que teus cálices homeopáticos me causam
Toda noite antes de deitar
Vinho espesso, noite longa
Dia triste, longe e perto

Me ajuda a te tirar
De tudo o que seja íntimo
Mesmo que a retina registre em tortura
O líquido cruel de teu sorriso
Me tira essa verdade dura
Que agora não mais reinará

Vinho, embriaga-me mais uma vez
Que amanhã sem ti vou acordar.

2 comentários:

disse...

Carai, que destruição, frango.

Juliana Coelho de Andrade disse...

Brindemos, minha amiga, a p... do último cálice, né?
Lindo, lindo, lindo!!!

=***