"Levei um golpe fantasma da Rádio Recife", narrou, em manchete, a moça chorosa ao se lamentar do estado de desgraça que a acometia. O golpe fora uma música do Abba, que tocara no bacurau do Rio Doce/CDU, condução que acabara de pegar após momentos de romance descartável com o ser amado. Chorou sob o olhar do cobrador, que não a deve ter condenado, pois certamente já levou dessas facadas invisíveis do acaso, das quais as musicais são as mais doloridas. Ao menos, foi Abba e não José Augusto que a golpeou tão cruelmente naquela noite de lua cheia de lágrimas. E pensar que a canção Ele, do rei dos cotovelos machucados, já tinha feito estragos maiores em público. Não menos do que Fui Eu, Minha História e outras tantas de Zé Guto das Causas Impossíveis. No trajeto, lembrou que, dias antes, seus olhos se liquefizeram durante o karaokê, enquanto cantava Frisson, de Tunai. Sentiu vergonha de tanto apanhar. Se os amigos a vissem berrar de desespero cantando hits pop de Lulu Santos e Kid Abelha, no chuveiro, provavelmente a matriculariam num intensivo de defesa pessoal. Havia se transformado num saco de pancadas; socos, pontapés, voadoras, rasteiras, bofetes que vinham de todos os lados, do rádio, da TV, dos casais de namorados nos bares, das fotos, das viagens do almoço, da lua, dos goles solitários ou não. Pediu parada e decidiu reagir. Mo Cuishle! Inspirou-se no karatê de Daniel San e no kung fu da Mamba Negra "Noiva", e planejou pular corda, lavar vidros, pintar cerca, correr na praia e todo o treinamento manjado dos ídolos da telona. De vítima, passaria a algoz. Agora, a melhor defesa seria o ataque, guerra seria guerra e bandido bom seria bandido morto. Estava vestida de aço. E nem bala, nem choque, muito menos bomba abalariam o poder de alguém que adotara o sobrenome Balboa.
4 comentários:
CARALHO
Chorei. Me senti poco no filme agora, pronta pra lutar com Detonator.
Bandidos, tremei!
nossa, eu viajo né
rs
os marcadores?
os marcadores são os melhores.
Ô, Renatita! Nunca mais tinha pintado por aqui...muito legal o texto, apesar do tema não ser tão fácil de lidar.
Pra mim, os goles são quase sempre solitários, não significa que sejam ruins, mas estranhos, com certeza, são. A maior viagem do mundo é sentir-se estranho a si mesmo! hahhahahahahahahhahahahah
Gostei que tu me fez antenar pra isso! ;*
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