28 de outubro de 2008

Pedras e tempos

Algumas coisas só parecem existir quando não precisam mais existir. É o caso da vesícula. Toda tão-tão-que-nem-nem no alto de sua inutilidade (com o perdão dos especialistas) que precisa se fazer ainda mais desnecessária para chamar atenção. Diferentemente das birras, gritos e arremessos de objetos tipicamente infantis, o orgãozinho fedelho precisa de pedras para jogar na sua cara. Umas pedras no meio da vesícula; no meio da vesícula, muitas pedras. Já vai tarde, preguiçosa. Há muito inútil; no avesso das horas do dia. Que, no início da vida, aparentam ser excessivas, demoradas e sem razão de ser. Ponteiros lentos. E, em poucos anos, se valorizam tanto que não servem mais para nada. Que venham mais; 30 horas talvez. Menos pedras, mais horas, nenhuma vesícula, todo o tempo. Acertemos assim: pedras nos relógios e vesículas para apreguiçar as horas do dia!

8 de outubro de 2008

Gracinha


Seria cômico não fosse trágico. Fazer rir, provocar risadas ou espasmos de diversão, neste mundo cão (rimou!), é mais difícil do que causar males em geral. E quem não tem o dom, o talento nato de palhaço ou, ao menos, uma cara de bunda - da qual o povo ri de graça -, ao tentar dar uma de engraçadinho, pode perder o amigo e a piada e, de quebra, ganhar fama de tabacudo(a). Já os humoristas de carteirinha ou de berço fazem a alegria da galera, animam uma festa como ninguém, são considerados indispensáveis na mesa do bar e costumam ser convocados como companhias ideais para curar a tristeza alheia. Uma amiga, dessas que fazem azul a rotina no trabalho, provoca sorrisos ao narrar os foras que costuma dispensar a idiotas de plantão. E o faz em siglas e mugangas. Vocabulário da magrinha: "Te enxerga, KLB!" (Ki Lapa de Bucho); "Ah, rato! (Ratomar no cu); entre outras coisas pouco mais baixas. Mas a danada, muito esperta, não faz a exposição da sua figura gargalhável fácil. Outro amigo é especialista em cuidar dos parceiros bêbados e, portanto, maior contador das bizarrices etílicas dos rapazes. "O cara bebia como se comesse feno", comparava, dia desses, imitando a vítima da fofoca, para felicidade geral da nação. O problema em fazer graça é que você acaba virando o Bobo da Côrte oficial da turma e ninguém o leva a sério. "Eu nunca sei se você está tirando onda ou não", já me disse um punhado de gente. E tudo vira uma brincadeira. Mesmo quando a graça acaba, e quem fica de graça é você. Como pessoas com piadas sofríveis na modinha stand up comedy. Como o meu irmão, que, para dar uma de Patati e Patatá (piada interna para mães e pais de filhos pequenos viciados na dupla de palhaços), gravou música clássica no meu MP3, o que descobri ao chegar na esteira da academia. Conta outra! Apesar de não ter direito a cara feia ou problemas de qualquer sorte, quem faz rir por último ri melhor e de si mesmo.


4 de outubro de 2008

Homem é homem


"Homem é homem, menino é menino, macaco é macado e viado é viado", já disse Falcão. Pois pois. Tal continua a ser o argumento masculino para a falta de caráter, a escrotice e a ausência de honra ao mito do sexo forte. Traição, mentira, sentimentos volúveis? "Homem é assim", esfaqueiam. Não que seja novidade ou que eu queira voltar às discussões sexistas/feministas comuns neste bloguinho. É que a bestialidade e a futilidade masculina, marcantes em todos os níveis de "maturidade" das pessoas de duas bolas, assustam mais do que nunca. Em mesas, no ônibus, no trabalho, ouve-se os (auto)considerados garanhões comentando a sobra de mulheres e a conseqüente e gradativa ousadia das calcinhas no ataque. Divertem-se, mais do que nunca, nos seus contadores, que registram quantas moçoilas - com menos de 30, claro, afinal, "a carne vai caindo", disse-me um dos vermes recentemente - pegaram no fim de semana, mesmo que, de dez, seis tenham sido bonecas infláveis vivas ou peitos e bundas desprovidos de calor. Não que as meninas sejam superiores ou tenham menos desejo de viver aventuras sexuais, como eles pregam. Até porque nossos exemplares de saias mais jovens costumam beijar mais de uma boca por noite e se gabar dos garotões sarados "ingeridos". Mas nós, quando vamos adquirindo certo know-how sentimental, temos, ao menos, noção do que nos satisfaz de verdade, o que nos traz retorno. "Como assim retorno?", indagou um amigo canalha. "Orgasmos reais", tive vontade de responder (pra chocar mesmo! Grrrrr). Sim, porque não vemos graça em beijar vários na balada e voltar para casa vazias. Ou em sexo casual com monumentos de barriga tanquinho que não necessariamente mandem bem na cama. Sabemos o que é bom, e não perdemos tempo com aventuras tantas com graça pouca. Em vez de ficar com seis pares de braços malhados, a mulher pode optar por um caso sem cobranças com o magrinho discreto divertido e de boa pegada. E geralmente os que são bons mesmo não vestem tanto o personagem Pegador. Sinceramente, Pegadores dão asco. Ao ver o tipinho de camisa apertada, músculos à mostra, cabelo da moda e falta de olhar fixo (sim, porque estão sempre mirando as várias carnes do rodízio), a vontade é de atravessar a rua. Se homem é homem, mulher é mulher. E, para nós, o que vale é hombridade, charme e feeling. Algo muito além de corpo, números e tamanho.