PENSO, LOGO DESISTO
(Por Igor)
Eu estava aqui pensando: os solteiros me dão pena! Não porque somos solteiros, porque estamos abandonados à própria sorte, livres para tudo (ou melhor, nada...), cheios de possibilidades (vazias e aleatórias)... Somos dignos de pena porque investimos o nosso suado dinheiro dos nossos fantásticos empregos em atividades totalmente desvinculadas do nosso interesse (ioga, fotografia, culinária, teatro, artesanato); nos exercitamos, suamos a camisa, e nos machucamos, nos contundimos (meu Deus, que saudade da minha cama e dos meus livros!); compramos os mais avançados utensílios tecnológicos – laptops, carros do ano, televisores enormes (ainda existe cinema na sua cidade, acredite); nos vestimos com roupas caras, usamos óculos “Ray Ban”, como se precisássemos enviar ao mundo a mensagem: eu estou disponível! Eu sou bem sucedido, inteligente e bonito... (leia-se: eu estou sozinho! Assustado, magoado, tentando desesperadamente chamar a atenção de alguém para alguém – eu - que na verdade nem é assim!).
Parece que tentamos preencher o nosso vazio com bugigangas e os amuletos da nova era, mas eles não entram nos espaços, sabe? Como aqueles brinquedinhos de encaixar para crianças, mas nada se encaixa: a estrela não encaixa no coração, o cubo não encaixa no círculo e a criança perde a paciência, então vai deixando os encaixes amontoados, apenas recobrindo o tabuleiro, numa bagunça em que ninguém acha mais cubo, estrela, coração... Muito menos o tabuleiro... O tabuleiro continua vazio, cheio de buracos, e ainda sufocado, aguardando uma mão amiga que saiba tapar... Bem, deixa pra lá.
Imagine-se multimilionário, saudável, bem-humorado, espirituoso e vivendo em uma ilha rodeada de tubarões áridos... Nada contra as motivações pessoais ou o bom gosto, mas, parafraseando Machado de Assis, “não existe espetáculo sem expectador...” Quem já teve um grande amor sabe que o sol, a praia, o vinho, a chuva, tudo deixa de ser substantivo e passar a ser substancial, tem cheiro, cor, sabor... É óbvio que são só ilusões, distorções dos nosso cérebros, mas e daí? São fantásticas, maravilhosas, inesquecíveis! É isso que resta, que importa, que fica...
Quem não quer ter filhos, almoços de domingo, alguém que te reconhece como doente ainda no período de latência (e bota sensibilidade nisso, quase coisa de mãe), que sabe quem você é (e mesmo assim continua do teu lado), não, não é para vocês que eu falo. Vocês são o extremo da evolução: seguros, independentes e deliciosamente promíscuos... Parabéns pra vocês! Em verdade, vos digo: o que quero dizer interessa aos casados, aos apaixonados, aos enrolados, aos envergonhados (e aos desavergonhados) e aos não mais tão apaixonados assim: meus queridos, prestem atenção! Não estraguem tudo, p...! Vocês podem acabar no shopping, na academia, no seu carrão, em casa, no computador...