29 de janeiro de 2010

Tudo novo de novo


Perdoem-me pelo longo silêncio. O precioso tempo é um bem que nos falta, às vezes. Mas, apesar de sagitarianos não curtirem muito as pressões, os muitos pedidos carinhosos para que atualizasse este bloguinho me ajudaram a voltar a priorizá-lo. E a prioridade me parece um tema interessante de explorar rapidinho, nesta volta meio relâmpago, diante de repetidos acontecimentos relacionados a tal característica. Não direi que são sempre eles os culpados. Mulheres há que curtem um step, uns dois repolhinhos e talvez um amor em cada porto. Por razões óbvias, no entanto, o homem parece se sentir mais à vontade para manter um harém. Uma para cada dia da semana? Diria que eles já ultrapassaram esse limite do calendário. Com a facilidade virtual de comunicação, a safadezinha feminina e a expertise de macho adquirida com o tempo, os moços deixam o corpo bruto de Neanderthal e se aproximam, cada vez mais, do moderno modelo Coração de Mãe (onde sempre cabe mais uma).

Com a destreza e a cara-de-pau conquistada ao longo de existências corcundas, peludas e barulhentas, o macho pós-moderno evoluiu na condição de líder do clã, por meio da qual pode desempenhar funções como pastor de (muitas) ovelhas, sultão, galo ou o tradicional canalha clássico. Tal clássico - espécie já tão explorada neste espaço emocional científico - já esbanja superpoderes oriundos dos fenômenos do tempo impressos em fenótipos e genótipos. Ele tem a grande habilidade da onipresença; consegue estar em processo de galanteio com cinco na internet, enquanto espera a namorada sair do banho e corteja outra ao telefone. A simultaneidade já começa a se desenvolver nesses seres antes desprovidos da qualidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. O indivíduo dessa espécie também tem o poder de negação superdesenvolvido. Se antes, negavam suas proezas até a morte, agora negam por duas encarnações consecutivas, até sob torturas no umbral ou no limbo. Resistente a peso na consciência ou rompantes morais, o pós-moderno adquiriu maior capacidade de mentir, a partir das qualidades cênicas conquistadas durante a evolução.

Mas nada de pânico. À medida em que os machos evoluíam, as moçoilas também adquiriam couraça cardíaca capaz de se blindar contra os poderes especiais do lado de lá. Também criaram e testaram em laboratório pesticidas e repelentes como a prioridade. A prioridade está para o macho pós-moderno como a criptonita para o Super-homem. Apesar de todo o poder, o macho pós se atrapalha na hora de eleger a rainha, a primeira-dama, a oficial - aquela que tem a cabeça mais forte para ostentar os chifres. Enquanto está tudo no mesmo nível, ele se deleita. No entanto, ao ensaiar um compromisso com uma delas ou ao menos fingir, em estratégia para não perder a dita cuja do seu rebanho, bate de frente com a capacidade feminina de defesa, que aciona o desconfiômetro e põe a prioridade à prova. Embaralhado, o macho vê regredida a função Esconder as Outras, e revela sua identidade secreta de Fracassado. Portanto, se quer maior imunidade contra o Coração de Mãe, apresente-lhe a prioridade e sente-se num confortável sofá, beliscando queijos finos e sorvendo bom vinho para admirar o espetáculo cômico de um canalha sem máscaras e de calças curtas.