25 de outubro de 2007

Luz, cama, tesão!


Tudo bem, eu vou falar de motel. Não, não precisa mais implorar. Seu desejo é uma ordem. Eita, e até que falar de desejo super tem a ver com o tema, né? Quando o clima tá fervendo, vale qualquer lugar. Mas há quem aposte nos detalhes da casinha do amor para o sucesso ou o fracasso da noite de fornicação. Tudo começa pela escolha da suíte, que pode ser feita a partir da aparelhagem e plus que o quarto possua ou pelo preço mesmo, que sempre é alguma coisa e noventa centavos (R$ 29,90; R$ 49,90...). No menu, antes de adentrar o recinto, tudo é lindo. As descrições daquelas Master, Super, Luxo, Power, Love, Grand, Avalon e outras hipérboles em língua estrangeira sugerem o paraíso: hidromassagem, teto solar, ducha quente, TV a cabo, videokê (por favor, alguém me diga q já cantou no videokê do motel para eu gargalhar), motosex (tão sexy quanto um touro mecânico), ar-condicionado, cadeira erótica (lembra cadeira de dentista, nada erótico), luz negra e as refeições de cortesia (cada vez mais raras). "Perfeito! Primeira opção, por favor". Ótimo quando tudo dá certo, as luzes todas acendem, o chuveiro molha direitinho, o travesseiro não é inflável e o condicionador de ar resfria. Uma amiga diz que se encanta com as luzes: "É a primeira coisa q eu faço! vou logo acender e apagar as luzinhas...assim fica claro, assim fica escuro, controla ali, acolá...". Outra criatura que conheço é louca por aquele cheiro de talco ativo que indica limpeza recente (que deve ser feita com pano molhado com o desinfetante-talquinho e nada mais). Cama redonda, desenhos do kama-sutra, espelhos e teto solar também estão entre os itens preferidos da galera. Agora, coisa ruim tem de tuia. Um amigo, por exemplo, não suporta aquelas esculturas, quadros e outros monstrengos metidos a arte-sensual que decoram os quartos. "A pessoa olha pro lado e vê uma piriquita de cimento toda tronxa. No outro, uma tela com a silheta tosca de um casal deformado", reclama o boy. Sem falar no agradável sabonetinho, cujo cheiro (quase nulo) todo mundo identifica na rua. Ah, mas o que importa é o amor, claro. Qual o problema se apareceu uma barata, se tem vazamento no banheiro ou se faltou dinheiro? Quem se importa com os bilaus de borracha à mostra para compras na cabeceira da cama e aparelhos de som que só sintonizam na Rádio Fucking Hell Songs? Que nada, o amor é lindo! Depois de pagar com o cartão, é só passar pela portaria a pé e esperar o ônibus na parada mais próxima.

18 de outubro de 2007

Sem mais


É pra não admitir que o coração ainda pulsa
É pra esquecer que sou chama
Pra esconder que o corpo clama
Por motivos que não ouso dizer

Pela mea culpa de sentir
Tudo o que só quero reprimir
Pra que não precise perder

E perco, mesmo assim, o chão
O pão, meu não, o colchão
Onde fizemos o silêncio acender
No plural conjugar, o orgulho quebrar
E o proibido não ser

A saudade que agora me engasga, no entanto
Entrega a meu pranto a falta cravada
A paixão domada, a frieza roubada
Não sou inocente, encantada
E sufoco, apagada
Aprendi a não ter

13 de outubro de 2007

Fluoxecretina


Felícia * droga é uma droga diz:
Ela parecia bem...mas tu sabes, né? quer se mostrar mais poderosa ainda do q é

Dario diz:
esse é o mal dos três

Dario diz:
e eu confesso

Felícia * droga é uma droga diz:
eu tb

Felícia * droga é uma droga diz:
Vamos fundar a APIA - Associação dos Poderosos Irrecuperáveis Anônimos

Dario diz:
Hahahhahahahahaha isso merece até uma comunidade no orkut

********
Se achar poderoso é crer que nada vai abalar tua pose blasé
Ser poderoso é tomar fluoxetina+sibutramina+álcool e achar que nada acontecerá.
Ser poderoso irrecuperável é se sentir e agir dessa forma e ainda repetir a dose.

Sorte do dia: fluoxetina com álcool faz você fingir que é outra pessoa e (o pior) não se lembrar depois.

10 de outubro de 2007

Controle de qualidade


É velha essa discussão em torno do quantidade x qualidade. Mas, de tanto que os números se põem à frente das especiarias, dá medo. Quantos amigos tenho no orkut, quantos anos, quantos dinheiros, quantas histórias, quantas celulites, quantas transas, quantos amores, quantas cervejas, quantos chifres...quanta ilusão! Já bastam os preços, os cifrões nos olhos das pessoas, os códigos de barra do que temos de pagar e todas as contas a fazer para se dar conta de que se pode sobreviver. Esse mundinho superficial, de números exatos e pouca essência enoja. Causa repulsa de tão fulgaz. Inda mais quando o que está em jogo são seus sentimentos, seu corpo, seu coração - de pedra, gelo ou qualquer outra dureza. Pegar vários boys pra contar pras amigas? Isso fica para eles. Sim, os canalhas. Sim, os homens. Que se medem pelos números. Quanto mais mulheres vulgares, sem graça e avulsas, melhor. É o que, Biscoitos Sortidos? Tem que ser diferente, como as camisas do guarda-roupa? Como as figurinhas do álbum de futebol? É realmente curioso como tanta gente prefere passar a vida experimentando o superficial, sem se aprofundar nos sabores mais especiais, aqueles que mais agradam o paladar e, quanto mais se conhece, mais se aprecia. Eu prefiro apreciar as especiarias. Outra porção de camarão, e não picanha. Mais dois caranguejos, por favor, pois não quero esse filé, obrigada. Variar é bom, mas novidade demais vicia a criatura em nunca se satisfazer, em sempre estar à procura frenética de algo que não chega. Ou chega...e se troca pelo próximo.

3 de outubro de 2007

Florbela me Espanca 1


Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também… nem eu sei quando…